Quando Bernardo Gandulla desembarcou no Rio de Janeiro em 1939 para jogar no Vasco da Gama, ninguém imaginaria que seu legado transcenderia os gramados e se eternizaria no dicionário brasileiro. Esta é a história do jogador que virou sinônimo de dedicação – e deu origem ao termo "gandula".
Uma Chegada Turbulenta
Em plena Era de Ouro do futebol carioca, o Vasco fez história ao contratar cinco argentinos. Entre eles, o desconhecido Bernardo Gandulla, vindo do Ferro Carril Oeste. Porém, irregularidades contratuais o impediram de estrear. Enquanto aguardava regularização, o atacante fez algo inédito:
"Já que não posso jogar, ao menos ajudo do jeito que posso."— Gandulla aos colegas do Vasco
Ele passou a recolher as bolas durante treinos e jogos, mesmo estando no banco de reservas. A imagem do atleta argentino – de camisa social e calças dobradas – correndo atrás das bolas no majestoso São Januário virou sensação.
Nascia um Novo Termo
A imprensa carioca, com seu habitual humor, começou a chamar os meninos que buscavam bolas de "gandulas". O apelido pegou como fogo no capim seco:
- 1939: Termo usado pela primeira vez em crônicas esportivas
- Década de 1940: Adotado nacionalmente em estádios
- 2001: Registrado no Dicionário Houaiss como "pessoa que recupera bolas em eventos esportivos"
Mas a história tem seu debate...
A Grande Polêmica
Alguns historiadores contestam a origem:
"A coincidência do nome ajudou a difundir o termo, mas não foi sua criação. 'Gandulo' já designava jovens ociosos em Portugal."— Walmer Peres, historiador
Evidências sugerem que o termo "gandulo" (de origem controversa, possivelmente do calão português ou do italiano gandulo) já circulava nos campos de várzea. Porém, é inegável: a figura de Gandulla cristalizou a palavra no imaginário futebolístico.
Além do Folclore
Após regularização, Gandulla mostrou seu valor:
- ✅ 29 jogos pelo Vasco (10 gols)
- ✅ Ídolo no Boca Juniors (1940-44)
- ✅ Campeão argentino em 1944
- ✅ Carreira como técnico após aposentadoria
Legado que Venceu o Tempo
Quer tenha cunhado o termo ou não, Gandulla personificou um valor raro: dedicação além das circunstâncias. Enquanto "gandulas" existirem nos estádios brasileiros, sua história permanecerá viva – seja como fato ou como o mais belo folclore futebolístico.
"Ele transformou um obstáculo em imortalidade linguística."— Editorial do Jornal dos Sports, 1942
📌 Fontes:
- Museu do Futebol Brasileiro
- Acervo Jornal do Brasil (1939-40)
- Verbete "gandula" - Dicionário Houaiss
- Biografia oficial do Boca Juniors
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(Crédito das imagens: Acervos citados)
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